Hoje dia 30 de Abril de 2015 eu
me deparei com esse twitter
A minha primeira
reação foi lembrar do filme Vênus Negra, que conta a história da Sul Africana
Saartjie Baartman, de quem falarei mais adiante. O choque como uma mulher
negra, lutadora incansável contra o racismo, foi imenso, foi aterrador! Logo
procurei me certificar de quem era Monga, a mulher gorila. Para meu espanto,
esse é um show chinfrim exibido em parques e circos de quinta, feito com
espelhos, para assustar os bobos.
Mas, o pior é
que a Monga, mulher gorila foi na verdade uma pessoa real, mais uma mulher
explorada, como tantas são ainda hoje, no tráfico humano, na televisão, por
cafetões, por maridos e tantos outros
Julia Pastrana
era uma índia mexicana, nascida em 1834 com hipertricose (doença que faz nascer
pelos pôr todo corpo) e também com hiperplasia gengival (responsável por suas
feições simiescas). Diz a história que foi vendida pela mãe a um tal Theodor
Lent, que casou com ela e a exibia em feiras, circos e lugares baratos, como Monga, a mulher gorila. Outros dados
dão conta que Julia trabalhava para o governador de Sinaloa chamado Rates que
levou-a Nova Iorque para mostrá-la a amigos cientistas e jornalistas.
Tutela de Rates,
Julia se apresentava em shows, onde expunha sua aparência monstruosa, mas
também demonstrava sua inteligência, delicadeza e voz belíssima. Não demorou
muito para que outro homem mostrasse interesse pelo “espécime” e comprasse
Julia: J. W. Beach passou a mostrá-la como um híbrido de mulher e orangotango,
com o aval de um doutor Brainerd, que a reputou pertencente a uma espécie
distinta.
Após várias
viagens pelos Estados Unidos, Julia caiu nas mãos de Theodore Lent, que a levou
para uma turnê na Europa, com enorme sucesso. O público se impressionava com a
cultura e boas maneiras de Pastrana, além de sua bela voz. Julia foi até
escalada para um trabalho “sério” em teatro, em Leipzig, onde interpretava uma
mulher de voz linda, coberta sob um véu, que se revelava no final da peça. O
próprio Charles Darwin se encantou com Pastrana, citando-a no prefácio:
“Variação de Animais e Plantas Domesticados”: “Uma mulher admirável, com uma
barba grossa e masculina.”
Aos 26 ela
morreu de parto e o seu bebe dias depois, a criança também tinha
hipertricose. Lent mumificou os dois e
continuou a exibi-los até morrer lá pelos idos de 1921. Depois disso a múmia de
Julia Pastrana ficou sendo exibida em espetáculos duvidosos até ir para o
Instituto de Oslo. Somente em 2013 um ativista mexicana solicitou a múmia de
Julia Pastrana para ser enterrada.
A segunda história que quero contar é de
Saartjie Baartaman, uma negra sul africana pertencente a tribo khoi-san, que
tinha grandes seios e grandes nádegas, de baixa estatura, coxas grossas,
enganada que ficaria rica na Europa era exposta, como Julia, num Show de
horrores. Saartjie era colocada numa jaula de onde saía gritando assustando a
todos como um animal selvagem. Era uma mulher de feitios "Inusitados"
para os europeus. Foi exibida pela Europa, onde foi alvo de chacotas e
humilhações, charges. Depois foi exaustivamente estudada por "médicos
europeus", diante de tantas violências, foi levada a se prostituir e
tornou-se alcoolista, morreu 29/12/1815 provavelmente por varíola. Seu
esqueleto, órgãos genitais (as mulheres de sua tribo tem uma peculiaridade
quanto aos lábios genitais) e cérebro ficaram em exposição (como teoria da
revolução racial) até 1974. Somente em 2002 Nelson Mandela reclamou seus restos
mortais, que foram levados para África do Sul. Sobre Saartjie existe um filme, que se
encontra no Youtube “Vênus Negra”.
Duas mulheres em
tempos distintos vivendo a mais miseráveis das vidas, mas, tão atuais. Quantas
Julias e Saartjies existem pelo mundo, barbarizadas, humilhadas, violadas de
todas as formas. O sexismo, o preconceito com a pessoa com deficiência, os
nossos preconceitos, por mais que os mascaremos, acabam abrindo brechas e
aparecendo como neste post dessa criatura infeliz.
Em respeito a
Julia Prastana, a Saartjie Baartaman, eu lhe convido a repensar seus conceitos,
eu lhe convido a ir de encontro a sua humanidade. Porque elas duas e as outras
tantas mulheres somos eu e você.
“Nenhum homem é uma ilha,
sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo
for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim
como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem
me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber
por quem os sinos dobram, eles dobram por ti” Meditações VI- John Donne.
Cândida Maria Ferreira da Silva
Pra se informar mais http://www.revistaforum.com.br/blog/2013/04/vida-e-morte-pastrana/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Saartjie_Baartman/
Quantas mulheres não estão, de alguma forma, sendo exploradas, às vezes nem percebem, mas ficam acorrentadas ao seu dono, que as usam sem pudor, sugando-lhes toda a vida. Humanizar o que é humano, não tem sentido, perdemos a essência de nós, deveríamos sentir melhor essas sutilezas, deveríamos resgatar as presas desses animais. E, isso nós não fazemos, nós nos omitimos, nós permitimos....
ResponderExcluirÉ triste ver o que o homem faz com seu semelhante: a mulher!!!
Suas histórias mostram o quanto somos preconceituosos, nós pagamos para ver aquele ser explorado e enjaulado, nós colaboramos com o criminoso....
Obrigada, abraços carinhosos
Maria Teresa