Sujeitando-vos uns aos outros
no temor de Deus.
Vós, mulheres, sujeitai-vos a
vossos maridos, como ao Senhor;
Porque o marido é a cabeça da
mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador
do corpo.
De sorte que, assim como a
igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a
seus maridos.
Vós, maridos, amai vossas
mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,
Para a santificar,
purificando-a com a lavagem da água, pela palavra,
Para a apresentar a si mesmo
igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e
irrepreensível.
Assim devem os maridos amar as
suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher,
ama-se a si mesmo.
Porque nunca ninguém odiou a
sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja;
Efésios 5:21-29
Todos conhecem bem esses
versículos da carta de Efésios, nesse capitulo Paulo elenca varias orientações
para um viver santificado e agradável ao Senhor. Inicia, logo após, as
recomendações familiares, preste atenção ele encerra as orientações para todo
Corpo de Cristo e inicia as recomendações para o viver em família com a
expressão: "sede submissos uns aos outros". A ordem de submissão quer
dizer que devemos considerar o Outro sempre em primeiro lugar. Alteridade.
Fazer bem ao outro, considerar o outro, abençoar o outro, ajudar o outro.
Essência do Amor.
Depois, ele inicia com a
submissão feminina, Paulo não acrescenta nada de novo ao papel feminino naquele
período histórico, assim como na carta à Filemon, em que intercede pelo escravo
Onésimo, não se posiciona contra a escravidão abertamente, fato corriqueiro na
época, mas, a desconstrói completamente, ao igualar o escravo a si mesmo, e
apelar a irmandade entre ele (Paulo), Onésimo e Filemon em Cristo, veja abaixo:
"Por isso, mesmo tendo em
Cristo plena liberdade para mandar que você cumpra o seu dever, prefiro fazer
um apelo com base no amor. Eu, Paulo, já velho, e agora também prisioneiro de
Cristo Jesus, apelo em favor de meu filho Onésimo, que gerei enquanto estava
preso. Ele antes lhe era inútil, mas agora é útil, tanto para você quanto para
mim. Mando-o de volta a você, como se fosse o meu próprio coração. Gostaria de
mantê-lo comigo para que me ajudasse em seu lugar enquanto estou preso por
causa do evangelho.
Mas não quis fazer nada sem a
sua permissão, para que qualquer favor que você fizer seja espontâneo, e não
forçado. Talvez ele tenha sido separado de você por algum tempo, para que você
o tivesse de volta para sempre, não mais como escravo, mas, acima de escravo,
como irmão amado. Para mim ele é um irmão muito amado, e ainda mais para você,
tanto como pessoa quanto como cristão. Assim, se você me considera companheiro
na fé, receba-o como se estivesse recebendo a mim".
A desconstrução dessas
relações de opressões na época é o que fará o evangelho se expandir em terra
romana, ao ponto de, para conte-la, Constantino "virar cristão" e
inventar o cristianismo.
Ora, da mesma forma que pela
lógica do Amor do Evangelho, Paulo desconstrói, também, a relação de opressão
vivida pela mulher.
O apóstolo conhecia muito bem
a situação feminina no mundo greco-romano e judaico. Para gregos a mulher era
um animal imperfeito, sem alma, inábil, sem inteligência, desordenado, era tão
inferior como um escravo, tanto que o amor "perfeito" se dava entre
homens e não na relação heterossexual. Na cultura judaica a mulher era o mal
encarnado, enganadora e culpada da entrada do pecado no mundo.
Paulo, mata de morte essa
cultura ao insistir que os maridos amem as esposas como Cristo amou a igreja,
entregando-se por ela. Ora, com que amor Cristo amou a igreja? Com amor de
Filipenses 2. 1-11, deixando a sua Glória, tornando-se homem e sacrificando-se
por ela numa morte de Cruz. Jesus mesmo designou-se muitas vezes como servo,
"estou entre vós como quem serve". Jesus abriu mão de sua
prerrogativa divina, por amor a sua igreja, Paulo continua a convocar os homens
da época a uma relação absolutamente nova com suas mulheres ao dizer que
ninguém é capaz de maltratar a si mesmo, posto isso, compreendemos que Paulo
chama os homens para uma relação de igualdade com as mulheres. "Elas são
sua própria carne" e ninguém pode se amar, se não ama sua mulher e ninguém
odeia a si mesmo.
Toda relação de opressão,
maus-tratos, negligencia, dominação, todo tipo de visão que nulificava a mulher
é destruída pelo apóstolo nesses dois exemplos: o amor de Cristo pela igreja e
o amor a si mesmo.
Contudo, a teologia misógina
dos pais da igreja, dos teólogos católicos e depois protestantes, vão beber na
fonte do pensamento grego e judaico contra a mulher, do que o ensinamento do
Evangelho e o exemplo de Jesus na sua revolucionária e extraordinária relação
com as mulheres, desde a sua gestação, passando pelo seu ministério, sua
crucificação e ressurreição.
Ele destrói todo machismo,
toda visão misógina. Ele, assim como na questão de Onésimo não faz um tratado
contra a escravidão e contra a opressão feminina, mas, as desconstrói
completamente quando apela a Filemon a olhar Onésimo como se fosse ele próprio,
como m irmão em Cristo. Assim, como desconstrói todo machismo reinante na época
ao chamar os homens a servirem as mulheres e a tê-las como parte de si, como na
primeira fala de Adão ao ver a mulher: Será chamada varoa, porquanto do varão
foi tomada. É ossos dos meus ossos, carne da minha carne". Essa é uma
declaração ABSOLUTAMENTE igualitária, sem divisão, sem hierarquização dos
gêneros e Paulo, chama novamente aos homens, que vivem o evangelho, a essa
relação de submissão mutua e abandono dos costumes opressores contra as
mulheres já reinante na época. Esse é o amor sacrificial, abrir mão da
hierarquização dos gêneros, da opressão e tratar a sua mulher como trata a si
mesmo. Um desafio em tanto....