INCESTO – UM TABU
Podemos considerar que família incestogênica ou
incestuosa é aquela onde as interações afetivas entre seus membros manipulam a criança
ou adolescente vítima, a uma relação sexual – afetiva culturalmente condenada
que é o incesto.
Tabu é uma palavra
originada de um termo polinésio TAPU,
que significa: proibido. O termo era
usado, entre os polinésios para diferenciar o que era sagrado, do profano, que
não deveriam ser misturados.
Desta forma, tabu é tudo
aquilo que, estabelecido como uma regra em sociedade deve ser evitado ou
proibido, por orientação religiosa ou moral.
O incesto é conhecido na
sociedade humana desde seu período pré-historico, o homem primitivo dominava
sua mulher devido à sua força superior e a considerava sua propriedade. Quando
os filhos atingiam a puberdade, protegia sua mulher de sua invasão sexual, da
mesma forma como defendia toda a sua propriedade contra eles. Essa proibição
tornou-se um costume e por sua vez, transformou-se num tabu.
O incesto foi
registrado em grandes sociedades antigas, como no Egito, onde era usual o
casamento entre irmãos, pais e filhas, para a manutenção do poder imperial. A
bíblia registra que o incesto era costume dos povos estabelecidos ao redor do
povo Hebreu. Abraão, patriarca do povo hebreu era casado com Sara, que era sua
irmã. “E, na verdade, é ela também minha
irmã, filha de meu pai, mas não filha da minha mãe; e veio a ser minha
mulher;” Gn. 20. 12
A própria bíblia relata
em detalhes alguns casos de incesto, um deles foi de Ló e suas duas filhas. “E subiu Ló de Zoar, e habitou no
monte, e as suas duas filhas com ele; porque temia habitar em Zoar; e habitou
numa caverna, ele e as suas duas filhas. Então a primogênita disse à menor:
Nosso pai já é velho, e não há homem na terra que entre a nós, segundo o
costume de toda a terra; vem, demos de beber vinho a nosso pai, e deitemo-nos
com ele, para que em vida conservemos a descendência de nosso pai. E deram de
beber vinho a seu pai naquela noite; e veio a primogênita e deitou-se com seu
pai, e não sentiu ele quando ela se deitou, nem quando se levantou. E sucedeu,
no outro dia, que a primogênita disse à menor: Vês aqui, eu já ontem à noite me
deitei com meu pai; demos-lhe de beber vinho também esta noite, e então entra
tu, deita-te com ele, para que em vida conservemos a descendência de nosso pai.
E deram de beber vinho a seu pai também naquela noite; e levantou-se a menor, e
deitou-se com ele; e não sentiu ele quando ela se deitou, nem quando se
levantou. E conceberam as duas filhas de Ló de seu pai.Gn. 19. 30-36.
Mesmo, com o tabu do
incesto sendo estabelecido socialmente, hoje, encontram-se sociedades onde ele
é permitido, no México, entre algumas
tribos indígenas, o incesto entre pai e filha ainda é comum.
Segundo analisam este
incesto é provocado por questões econômicas, visto que as terras cultiváveis
ficam longe de casa, e precisam de uma mulher para moer o milho que colhe,
assim sendo costumam levar a filha, enquanto sua mulher fica em casa com os
outros filhos. Normalmente possuem um único cobertor, por ser um objeto muito
caro, que costuma ser curto e que divide com a filha. A combinação do contato
físico, do isolamento e do costume torna o incesto inevitável.
Há ainda os povos tribais do Malawi que
acreditam que relações sexuais com suas irmãs os deixarão à prova de balas.
A proibição do
incesto não tem origem puramente cultural, nem puramente natural, ela se
constitui num movimento fundamental, pelo qual se cumpre a passagem da natureza
à cultura. A proibição do incesto é o conceito explicativo do surgimento, nada
mais e nada menos que do que a propria cultura.
CARACTERÍSTICA DA FAMÍLIA INCESTOGÊNICA
É importante ressaltar que famílias
incestogênicas não possuem um corte socioeconômico, ou seja, famílias pobres
não são mais incestogênicas ou mais propensas ao incesto do que famílias de
classe media ou ricas. As famílias incestogênicas são encontradas em todas as
escalas sociais.
Esse tipo de família tem uma
característica interessante por serem aglutinadas/simbióticas, sem limites
entre o subsistema dos pais e filhos, o que ocorre com um membro da família
afeta todos os outros, a saída de um membro da família do sistema é considerada
uma traição, assim como a entrada de um novo membro é percebida como
ameaçadora, ou roubadora do membro da família.
Também se caracterizam por serem
rígidas ou caóticas. Rígidas com pais estruturados que tem dificuldades para
enfrentar mudanças, o novo. Caóticas quando as regras não são bem definidas com
uma grande confusão ao nível das fronteiras intergeracionais e das identidades
de seus membros.
As relações sociais são limitadas até como forma de
manter o segredo, que é uma parte forte da estrutura dessa família, o segredo a
mantém de pé, estruturada, por isso a fronteira organizacional é pouco
permeável ao exterior e resistência à mudança, ou como já assinalamos suas
fronteiras são rígidas.
A organização familiar é fundada num segredo que por
muitas vezes persiste de geração a geração - a vítima é silenciada ante a
ameaça das terríveis conseqüências de uma possível revelação do segredo - medo,
vergonha, culpa; desagregação da família, degeneração da imagem do pai,
degeneração da imagem da família feliz.
Os limites geracionais não estão claros. Podemos dar
como exemplo quatro tipos de estrutura onde é possível ocorrer à violência do
incesto.
1.
Pai executivo e mãe como criança: a filha sobe na relação geracional para ficar no
lugar da mãe.
P
------------------
C C C M
2.
Mãe Executiva e pai tímido (bonzinho): é uma família de estrutura e fronteiras rígidas onde
o pai possui autoestima baixíssima. A intimidade de P e M é difícil. O pai se
sente querido através das crianças.
M
-------------------
C C C P
3.
Família de terceira geração: mãe trata pai como filho e crianças como netos. O
Pai ou entra no subsistema dos filhos ou os filhos sobem ao subsistema do pai.
A mãe é muito distante dos filhos e maternal com o pai.
M
------------------
P
------------------
C C C
C
4.
Não há autoridade: todos estão sempre ligados e não há figuras de autoridades, não há
controle.
------------------
C C C P M
Existe
uma ilusão de uma aparente coesão, ou seja, a vitima crê que a ligação
incestuosa tem como função manter a família, embora, de fato, ela já esteja
desunida há muito tempo. Para a vítima ela acredita que os une que pagando com
seu corpo e que a denuncia irá desuni-los totalmente.
Nas
famílias tipo 1, onde o pai é executivo, existe uma verdadeira ditadura
familiar, com o poder, sendo concentrado na figura do pai. Faz as regras e
nutre-se do "terror da revelação" e do "terror do
abandono". É o tipo de famílias patriarcalistas onde o pai possuem todo
poder sobre os filhos e a mãe é vista não como adulta, mas, como criança.
DINÂMICA FAMILIAR
Para Viviane Guerra e Maria Amélia Azevedo a
dinâmica familiar se apresenta em termos genéricos como:
·
Existe muita
vulnerabilidade a situações de stress
dadas as suas estruturas interna e a própria historia de vida de seus
progenitores no qual geralmente vivenciaram episódios de violência domestica,
especialmente negligencia e espancamento, por vezes a violência sexual se
apresenta em menor escala.
·
Um pai impulsivo,
que requer ser gratificado imediatamente em relação ao seu desejo, necessita
reafirmar seu pode e exigir obediência. Geralmente enfrenta problemas na área
da sexualidade.
·
A mãe se mostra
em contrapartida passiva, com baixa autoestima, embora possa adotar uma postura
superprotetora, ou de completa omissão.
·
A criança vitima
costuma ser passiva, dependente, podendo na adolescente se mostrar revoltada,
agressiva e promiscua na adolescência.
·
Quando expostos
a revelação da violência o mecanismo mais comum é o da negação. As modalidades
mais comuns de negação são:
o
Negar o fato: o agressor afirma que não fez nada;
o
Negar o impacto da violência: o agressor propõe esquecer tudo, ou então, o que tem
isso ela dormiu com muitos mesmo!
o
Negação da conscientização: o agressor afirma que estava fora de si, alcoolizado
ou quando a criança ou adolescente diz que não sabe de nada porque estava
dormindo.
o
Negação da responsabilidade: o agressor ou a criança/vitima afirmam que a culpa
foi da criança que o seduziu ou não soube resistir a seus avanços.
Ainda analisando a dinâmica dessas
famílias é preciso ter clareza que os mecanismos podem variar conforme o tipo
de incesto: pai-filha; mãe-filho; avô-neta; irmão-irmã, ou outros parentes.
O Incesto entre Pai e Filha
O incesto entre pai e
filha é o tipo mais comum dos incestos entre adultos e crianças. Quando ocorre
e é descoberto, a questão quase sempre precisa ser resolvida fora da família,
geralmente pela polícia, porque o pai é tradicionalmente a fonte da “lei” familiar.
É um tipo de incesto que
começa sutilmente, onde o carinho normal de pai para filha vão passando à
prática de “carícias” que dificilmente deixam lesões físicas.
O pai raramente recorre à
força ou à violência, para suas iniciativas incestuosas, contudo há uma imensa
coerção psicológica embutida na relação pai-filha. A filha aprende a obedecer
ao pai, e também espera dele uma orientação moral. Se o pai diz que está tudo
bem, é porque deve estar certo. E é claro que se ela cogitar desobedecer, a
ameaça de punição está sempre presente. Assim, a vítima quase sempre participa “voluntariamente”
do incesto, sem reconhecer a coerção sutil que ocorreu. “Em algum nível os atos
incestuosos são efetuados com a cumplicidade familiar. O pai é induzido pela
sedução consciente ou inconsciente da filha e pela cumplicidade de uma
hostilidade comum contra a mãe. A mãe força a filha a suportar a pesada carga
de assumir o papel de esposa e amante do próprio pai, libertando-a dessas
funções. Toda essa disfunção serve como defesa contra a alteração da estrutura
familiar” (Cohen, 1993:62).
Costuma existir um acordo
silencioso entre pai e a mãe sobre o papel da filha na família. Nesse acordo a
relação sexual passa a ocorrer entre a filha e o pai e não mais entre o casal.
Ocorrendo uma coalizão destrutiva entre os pais, onde a mãe por sua falta de
disponibilidade como mãe e esposa, não impede a aproximação sexual do cônjuge a
seus filhos.
Em seu livro Violência Domestica: Fronteiras do
conhecimento, Viviane Guerra e Maria Amélia Azevedo relatam o caso de uma adolescente
que ao revelar a mãe o abuso sexual do pai ouviu da mesma que “ainda bem, assim
você reparte comigo o fardo de satisfazer este homem”.
Incesto mãe-filho
Menos comum, mas, também tão devastador quanto o de
pai-filha, o filme: No Limite do Silencio, mostra as conseqüências do
incesto mãe-filho em uma família e na psicologia do menino, levando-o a uma
psicopatia no período da adolescência.
Tanto quanto do pai-filha este é disfarçado e
mascarado, mas, devido o acesso que a mãe tem ao corpo do filho, pode ser menos
identificável. Até há pouco tempo
somente ela dava banho, trocava fraldas em seus filhos. É recente a
participação do pai nesses cuidados.
Muitas
abusam sexualmente dos seus filhos durante o banho, chupando o seu pênis;
outras, em outros momentos, "brincando" com o seu pênis, de forma a
lhe fazer carícias e brincadeiras muitas vezes “consentidas sexualmente”, essas
brincadeiras costumam evoluir conforme o abuso pai-filha, para carícias cada
vez mais intimas e a relação propriamente dita.
O abuso sexual da mãe com o filho tem um outro fator
que o torna ainda mais complicado. A mãe, assim como o pai, utiliza-se da
sedução. Porém, enquanto ela está manipulando o pênis do filho, mesmo que ela
se excite, este pode não perceber claramente a excitação dela, mas sente a sua
própria excitação. Isso o deixa confuso e, conseqüentemente, mais culpado.
Da mesma forma que a menina, o menino pode sentir-se
especial, sendo alvo da atenção da mãe, é estimulado a manter o segredo entre
eles do amor e carinho especial que possuem.
A vítima, além dos conflitos vividos em relação a
abusadora, sente também uma grande raiva dos familiares que estão ao seu redor
- a mãe, o pai, os irmãos mais velhos - que têm a função de protegê-la e não o
fazem, deixando-a só e abandonada.
As conseqüências do abuso sexual são
inúmeras e se manifestarão na vida de cada um de acordo com a sua história
pessoal.
BIBLIOGRAFIA
CONSULTADA
AZEVEDO,
Maria Amélia. GUERRA, Viviane Nogueira de Azevedo. Violência Domestica: Fronteiras do Conhecimento. São Paulo: Cortez
Editora, 1993
AZEVEDO,
Maria Amélia. GUERRA, Viviane Nogueira de Azevedo. Dossiê Diagnostico –
Violência Contra Crianças e Adolescentes. Modulo 3 – Telelacri, São Paulo: USP,
2000.
BRAUN, Suzana. A Violência Sexual Infantil na
Família: Do Silêncio à Revelação do Segredo. Porto Alegre: Ed. Age Ltda,
2002.
COHEN, Cláudio. O Incesto um Desejo. São
Paulo: Casa do Psicólogo Livraria e Editora Ltda, 1993.
FORWARD, Susan; BUCK, Craig. A Traição da
Inocência: o incesto e sua
devastação.
Tradução de Sergio Flaksman. Rio de Janeiro: Rocco, 1989.
FILME NO
LIMITE DO SILÊNCIO Título original:
The Unsaid
Duração: 109 minutos (1 hora e 49 minutos)
Gênero: Suspense
Direção: Tom McLoughlin
Ano: 2001
País de origem: EUA
Distribuidora: Artfilms
BIBLIA
SAGRADA: (ALMEIDA
CORRIGIDA E REVISADA FIEL)
CANDIDA
MARIA FERREIRA DA SILVA
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