Há alguns dias fiz uma pequena
reflexão sobre a luta diária da mulher. Não tinha conotação feminista, mas,
falava da luta do universo feminino e seu cotidiano. Ao final do texto disse
que não havia falado das negras, apesar do texto falando do universo feminino
certamente falada de nós. Mas, quero fazer alguns destaques sobre a luta diária
da mulher negra no Brasil a partir de algumas leituras que tenho feito.
Como por exemplo o mapa da violência
contra mulheres, a morte materno-infantil, população carcerária, pobreza e
miséria, a crescente famílias chefiadas por mulheres, aumento da participação
na criminalidade, hipersexualização e toda sorte de desrespeito.
Segundo dados recentes sobre a população
carcerária no Brasil estima-se que hoje tenhamos por volta de 500 mil presos
(outros falam de 700 mil), destes, 14 mil são mulheres, houve um aumento de 74%
de encarcerados no Brasil, entre as mulheres
houve um aumento de 146% de encarceramento, o perfil das encarceradas é:
possuem baixa escolaridade e "Dados do Ministério da Justiça mostram que o
perfil das mulheres presas no Brasil é formado por jovens, dois terços do total
têm entre 18 e 34 anos; são negras e das
mulheres encarceradas hoje 45% são pretas ou pardas. "
Sobre a saúde feminina mulheres
negras tem 6 vezes mais chances de vir a óbito no parto. "(...) As taxas
de mortalidade materno infantil entre a população negra são superiores às
registradas entre mulheres e crianças brancas. Os números mostram que 60% das
mortes maternas ocorrem entre mulheres negras e 34% entre mulheres brancas. Já
na primeira semana de vida, a maioria das mortes é registrada entre crianças
negras (47%) entre as brancas, o índice é 36%." Um dos fatores apontados
para esse alto índice de mortalidade entre as mulheres e crianças negras, seria
o racismo institucional, que levou a SEPPIR a elaborar uma campanha sobre o
tema, além de um curso de sensibilização pelo SUS.
Dados da saúde apontam que
mulheres negras fazem metade das consultas de pré-natal que as mulheres
brancas, além de receberem um atendimento precarizado no momento do parto, os
dois fatos tem levado a um índice de mortalidade alarmante. Há relatos de
mulheres negras de que durante o pré-natal são tratadas com descaso, “as vezes
nem tocadas” e durante o parto são alvo de maior violência obstetrícia e
negligencia.
A alta mortalidade dos homens
negros tem levado as mulheres negras a serem chefes de família, a baixa
escolaridade as levam a uma menor participação do Mercado de Trabalho:
"Dessa forma, a taxa de atividade varia entre 72,7% entre amarelos e
indígenas, 74,1% entre as pessoas negras e 75,8% entre as pessoas
brancas.", principalmente o de carteira assinada: "Na análise por
cor/raça, verificou-se que a proporção de pessoas pretas ou pardas em trabalhos
formais é consideravelmente menor que a da população de cor branca. No caso das
mulheres negras essa proporção é ainda menor. Somente 47,3% das mulheres pretas
ou pardas ocupadas estão em trabalhos formais, percentual que se reduz para
34,6% na Região Nordeste."
Desta maneira as mulheres negras
e pardas engrossam as filas das trabalhadoras informais: diaristas, domesticas
sem carteira assinadas, camelos, ambulantes, entre outras atividades. Um lado
perverso desta situação é que tendo a mulher que assumir a provisão da casa, a
filha mulher assume o trabalho doméstico infantil, mesmo sendo mais nova que os
irmãos homens. O trabalho doméstico infantil, leva a evasão escolar e também a
gravidez e a união precoce como forma de “escapar” da responsabilidade de ser
dona de casa e mãe dos irmãos.
A baixa escolaridade, o
subemprego ou emprego informal leva a miséria e pobreza: "A análise da pobreza com base
em desigualdades de gênero e cor/raça demonstra níveis de pobreza muito
elevados entre a população negra em geral, com piores níveis entre as mulheres
negras. As pessoas negras com rendimentos familiares per capita de até ½
salário mínimo são 38,9%, uma concentração de pessoas muito acima da média
nacional. Em números absolutos, há, aproximadamente, 37 milhões de pessoas
negras entre os 55 milhões de pobres. Entre as mulheres negras, 39,8% delas
estão em situação de pobreza." Ou seja, no Brasil a pobreza tem cor e
gênero bem definidos.
A situação de miséria e pobreza
que leva ao subemprego ou ao emprego informal gera um alto índice de negras e
pardas analfabetas, analfabetas funcionais ou de baixa escolaridade, a maioria
não passando das primeiras series do ensino fundamental. "Na educação, por
exemplo, as disparidades nas taxas de alfabetização e escolaridade entre
mulheres negras e brancas é preocupante: 90e 83% para as brancas e 78% e 76%
para as negras, respectivamente."
A condicionalidade de educação do
Programa Bolsa Família e a política de cotas para negros e pobres tem
lentamente mudado esta situação, aumentando a escolaridade das meninas e jovens
negras e também proporcionando sua entrada no Ensino Superior, até mesmo em
profissões onde eram totalmente banidos: medicina, engenharia, odontologia,
arquitetura, entre outras que se destinavam a estudantes de classes mais
abastadas.
Quanto a Violência de Gênero as
mulheres negras são as maiores vítimas da violência doméstica. Segundo os dados
apresentados no Mapa da Violência, em 2010, morreram 48% mais mulheres negras
do que brancas vítimas de femicídio, diferença que vem se mantendo ao longo dos
anos".
O quadro não é nada bom. Para
além dessas constatações que podem ser verificadas nos sites abaixo, temos
ainda os estereótipos que permanecem na sociedade, como da negra e da mulata
hipersexualizadas, objeto de fetiche de homens brancos e do turismo sexual e
nesse caso, a exploração sexual de meninas negras e brancas também é alto.
A televisão e outros meios de
comunicação ainda persistem em manter estereótipos da mulher negra como
favelada, inculta, barraqueira, hipersexualizadas, domestica, mulher ou mãe de
bandido, desleixada, negligente com os filhos.
Haja visto que no Brasil negros
em geral e a mulata só aparecem durante o carnaval, para depois aparecerem apenas
nas páginas policiais, na sua maioria como bandidos/as ou cadáveres,
engrossando as estatísticas da violência contra a comunidade negra.
Há muito que ser debatido no
movimento negro e de mulheres sobre a situação especifica da mulher negra e
como poderemos reverter essa situação de miséria, pobreza, violência, morte e
desesperança.
Candida Maria Ferreira da Silva
Pra saber mais:
-
http://www.progresso.com.br/policia/populacao-carceraria-feminina-cresce-256-em-2012-divulga-diretor-do-depen
- http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2014/11/saude-lanca-campanha-contra-racismo-no-sus
http://www.compromissoeatitude.org.br/wpcontent/uploads/2014/01/RASEAM_interativo.pdf0http://www.institutobuzios.org.br/documentos/MULHER%20NEGRA%20DADOS%20ESTATISTICOS.pdf
- http://blogueirasfeministas.com/2012/11/a-violencia-contra-as-mulheres-negras/
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