Blog Candida Maria
Meu sorriso Ele não é feito de futilidades por trás dele já desceram muitas lágrimas. Meu sorriso Ele não é feito de fantasias por trás dele já doeram muitas realidades. Candida Maria
Eu
domingo, 27 de novembro de 2016
terça-feira, 9 de agosto de 2016
Oferta de Amor
Eis-me aqui!
esse vaso de barro,
imperfeito,
trincado,
mil vezes quebrado,
amassado,
moldado,
Feito e refeito,
E sempre refeito.
Nesse Altar
todo de Amor
me ofereço.
Eis-me aqui!
essa pequena serva,
tão frágil e fraca,
tão errante e muitas vezes,
cambaleante.
Que necessita a todo instante
da tua Graça.
Nesse Altar
todo de Amor
me ofereço.
Eis-me aqui!
essa tua filha,
adotada, amada, cuidada,
resgatada,
pela Cruz Eterna.
Nesse Altar
todo de Amor
me ofereço.
Eis-me aqui!
E o que Tu sonhas
seja minha verdade.
Eis-me aqui!
E o que Tu planeja
seja minha vontade.
Eis-me aqui!
E o que Tu crias
seja minha vida.
Eis-me aqui!
E o que tu falas
seja meu próprio ser.
Como oferta de Amor
A Ti me ofereço!
Tu que por mim
ofereces-te teu Filho.
Eis-me aqui!
Cumpre nessa serva,
Teu querer! Teu Amor!
De tal forma que:
Teu querer seja o meu,
Teu Amor seja o meu,
Teu sonhar seja o meu,
Teu falar seja o meu,
E que Tu sejas eu.
Eis-me aqui!
Candida Maria Ferreira da Silva
terça-feira, 28 de junho de 2016
Sujeitando-vos uns aos outros
no temor de Deus.
Vós, mulheres, sujeitai-vos a
vossos maridos, como ao Senhor;
Porque o marido é a cabeça da
mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador
do corpo.
De sorte que, assim como a
igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a
seus maridos.
Vós, maridos, amai vossas
mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,
Para a santificar,
purificando-a com a lavagem da água, pela palavra,
Para a apresentar a si mesmo
igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e
irrepreensível.
Assim devem os maridos amar as
suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher,
ama-se a si mesmo.
Porque nunca ninguém odiou a
sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja;
Efésios 5:21-29
Todos conhecem bem esses
versículos da carta de Efésios, nesse capitulo Paulo elenca varias orientações
para um viver santificado e agradável ao Senhor. Inicia, logo após, as
recomendações familiares, preste atenção ele encerra as orientações para todo
Corpo de Cristo e inicia as recomendações para o viver em família com a
expressão: "sede submissos uns aos outros". A ordem de submissão quer
dizer que devemos considerar o Outro sempre em primeiro lugar. Alteridade.
Fazer bem ao outro, considerar o outro, abençoar o outro, ajudar o outro.
Essência do Amor.
Depois, ele inicia com a
submissão feminina, Paulo não acrescenta nada de novo ao papel feminino naquele
período histórico, assim como na carta à Filemon, em que intercede pelo escravo
Onésimo, não se posiciona contra a escravidão abertamente, fato corriqueiro na
época, mas, a desconstrói completamente, ao igualar o escravo a si mesmo, e
apelar a irmandade entre ele (Paulo), Onésimo e Filemon em Cristo, veja abaixo:
"Por isso, mesmo tendo em
Cristo plena liberdade para mandar que você cumpra o seu dever, prefiro fazer
um apelo com base no amor. Eu, Paulo, já velho, e agora também prisioneiro de
Cristo Jesus, apelo em favor de meu filho Onésimo, que gerei enquanto estava
preso. Ele antes lhe era inútil, mas agora é útil, tanto para você quanto para
mim. Mando-o de volta a você, como se fosse o meu próprio coração. Gostaria de
mantê-lo comigo para que me ajudasse em seu lugar enquanto estou preso por
causa do evangelho.
Mas não quis fazer nada sem a
sua permissão, para que qualquer favor que você fizer seja espontâneo, e não
forçado. Talvez ele tenha sido separado de você por algum tempo, para que você
o tivesse de volta para sempre, não mais como escravo, mas, acima de escravo,
como irmão amado. Para mim ele é um irmão muito amado, e ainda mais para você,
tanto como pessoa quanto como cristão. Assim, se você me considera companheiro
na fé, receba-o como se estivesse recebendo a mim".
A desconstrução dessas
relações de opressões na época é o que fará o evangelho se expandir em terra
romana, ao ponto de, para conte-la, Constantino "virar cristão" e
inventar o cristianismo.
Ora, da mesma forma que pela
lógica do Amor do Evangelho, Paulo desconstrói, também, a relação de opressão
vivida pela mulher.
O apóstolo conhecia muito bem
a situação feminina no mundo greco-romano e judaico. Para gregos a mulher era
um animal imperfeito, sem alma, inábil, sem inteligência, desordenado, era tão
inferior como um escravo, tanto que o amor "perfeito" se dava entre
homens e não na relação heterossexual. Na cultura judaica a mulher era o mal
encarnado, enganadora e culpada da entrada do pecado no mundo.
Paulo, mata de morte essa
cultura ao insistir que os maridos amem as esposas como Cristo amou a igreja,
entregando-se por ela. Ora, com que amor Cristo amou a igreja? Com amor de
Filipenses 2. 1-11, deixando a sua Glória, tornando-se homem e sacrificando-se
por ela numa morte de Cruz. Jesus mesmo designou-se muitas vezes como servo,
"estou entre vós como quem serve". Jesus abriu mão de sua
prerrogativa divina, por amor a sua igreja, Paulo continua a convocar os homens
da época a uma relação absolutamente nova com suas mulheres ao dizer que
ninguém é capaz de maltratar a si mesmo, posto isso, compreendemos que Paulo
chama os homens para uma relação de igualdade com as mulheres. "Elas são
sua própria carne" e ninguém pode se amar, se não ama sua mulher e ninguém
odeia a si mesmo.
Toda relação de opressão,
maus-tratos, negligencia, dominação, todo tipo de visão que nulificava a mulher
é destruída pelo apóstolo nesses dois exemplos: o amor de Cristo pela igreja e
o amor a si mesmo.
Contudo, a teologia misógina
dos pais da igreja, dos teólogos católicos e depois protestantes, vão beber na
fonte do pensamento grego e judaico contra a mulher, do que o ensinamento do
Evangelho e o exemplo de Jesus na sua revolucionária e extraordinária relação
com as mulheres, desde a sua gestação, passando pelo seu ministério, sua
crucificação e ressurreição.
Ele destrói todo machismo,
toda visão misógina. Ele, assim como na questão de Onésimo não faz um tratado
contra a escravidão e contra a opressão feminina, mas, as desconstrói
completamente quando apela a Filemon a olhar Onésimo como se fosse ele próprio,
como m irmão em Cristo. Assim, como desconstrói todo machismo reinante na época
ao chamar os homens a servirem as mulheres e a tê-las como parte de si, como na
primeira fala de Adão ao ver a mulher: Será chamada varoa, porquanto do varão
foi tomada. É ossos dos meus ossos, carne da minha carne". Essa é uma
declaração ABSOLUTAMENTE igualitária, sem divisão, sem hierarquização dos
gêneros e Paulo, chama novamente aos homens, que vivem o evangelho, a essa
relação de submissão mutua e abandono dos costumes opressores contra as
mulheres já reinante na época. Esse é o amor sacrificial, abrir mão da
hierarquização dos gêneros, da opressão e tratar a sua mulher como trata a si
mesmo. Um desafio em tanto....
“E
disse o Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A
serpente me enganou, e eu comi”.
Genesis
3. 13
Culpada! Maldita! Maligna! Porta
do inferno! Sem alma! Enviada de satanás…é a mulher já foi e continua sendo na
teologia misógina tudo isso, além de influenciar fieis, também se constituiu
como um fato social, de tão maligna, precisava de freios e esse freio só
poderia ser dado por um homem.
Mas, com atrevimento de culpada,
maldita, maligna e outros adjetivos sombrios que quero pensar sobre esse
momento de Eva e a serpente e seu comportamento após os fatos ocorridos.
Primeiro estamos tratando sobre
CONHECIMENTO, temos um ser pensante chamada Eva, a quem foi dada a ordem de
cuidar e dominar a criação. Ela estava tendo um trabalho duro de pensar, dar
significado a tudo o que estava ao seu redor, criar um mundo, um sistema, uma
linguagem.
É no meio desse trabalho de
reflexão que a serpente entra com suas insinuações. Interessante é que ela a
atrai exatamente naquilo que está envolvida: conhecer, pensar.
Ela distorce a verdade: “ORA, a
serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus
tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de
toda a árvore do jardim”? Gn 1 Eva, responde a verdade “Não, de todas as
arvores não, da arvores do conhecimento do bem e do mal não devemos comer, por
que morreremos. ” Em contrapartida a serpente lança sua isca: “Não. Não, vocês
não vão morrer! Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os
vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. ”
Em outras palavras: Deus está
mentindo, Ele só não quer que vocês saibam tudo, sejam livres, conheçam como
Ele conhece...sejam como Ele, deuses.
E Eva “vendo que a arvore era boa
para dar conhecimento”, tomou do fruto, comeu e deu ao seu marido. Não estamos
diante de um ser idiotado, mas, de alguém pensante, que construía naquele
momento um sistema de sociedade com seu parceiro utilizando sua total
capacidade cognitiva.
A questão para Eva era conhecer mais,
aprofundar-se nos mistérios que aquele mundo lhe proporcionava e a serpente usa
seu sempre astuto ardil a distorção da verdade...ah não é bem assim!
Eles eram livres para desfrutar
de tudo, mas, havia um limite. O limite não era o medo de Deus a respeito de
uma sabedoria que não queria repartir. O limite era pedagógico. Para haver
liberdade há de se haver limites ou caímos na libertinagem. Para haver
democracia há de haver limites senão caímos no anarquismo. O limite postos e
bem claros são a base da liberdade humana. A falta de limites causa o
aprisionamento do ser.
Satanás usa uma estratégia bem
conhecida: se não tem tudo não tem nada. Não é sempre assim? A distorção da
verdade, sempre com a aparência de piedade e bondade? Nunca o horror que ela
esconde, no caso, o desenrolar dos fatos ocorridos: quebra do relacionamento
com Deus, entre o casal, o desastre cósmico, o desastre da natureza e pôr fim a
morte.
Havia um limite ao conhecimento?
Não, não havia nenhum limite ao conhecimento deles (casal adâmico). Havia um
limite para o uso da liberdade com responsabilidade.
Eva, não precisava “ser como
Deus”, ela já tinha essa Imago Dei definida e estruturada nela. Tinha liberdade
para relacionar-se com Deus e conhecer tudo o que quisesse. Mas, dar-se limite
era essencial para viver sua liberdade.
Atraída a um saber sem limites,
Eva desconheceu o limite imposto e caiu. Mas, a história não acaba aqui.
Confrontada sobre seu ato ela corajosamente assume o que fez. Ela reflete sobre
si mesma, que foi enganada e que comeu. Não usa subterfúgios. Fui enganada e
comi.
As consequências logo vieram: a
terra se tornou maldita, o trabalho árduo, a serpente rastejante, a dores do
parto maiores, a expulsão do paraíso e a morte física.
Mas, na tríade Deus- mulher-
serpente, acontece algo muito interessante. A serpente e a mulher se tornam
INIMIGAS, eternas inimigas. Lembrando que a serpente aqui representa satanás, o
mal, lúcifer, temos uma interessante revelação: satanás e toda a sua turma
maligna odeia a mulher. Em todos os tempos, lugares e religiões mulheres são
perseguidas e maltratadas, para além das razões sociais e históricas, hoje
chamo atenção para a transcendência da violência, da perseguição, da
desvalorização sistemática da mulher.
A semente da mulher destruirá a serpente,
Deus está falando do Cordeiro Imolado antes da Fundação do Mundo, é na
legalidade do nascer humano que o Cordeiro, Filho do Deus Vivo, o Deus Eterno
na blasfêmia para os judeus, na loucura para os gregos, se faz homem, entra na
história.
Se a serpente a enganou e a
mulher foi o veículo para a queda, ela agora, ela era o veículo para a abrigar
em seu corpo. Aquele que nos abrigaria na Graça. A mulher foi o primeiro templo
de Deus.
Disforme nas entranhas de sua
mãe, Jesus, a tinha como um templo que o guardava como grande tesouro.
A serpente há de morder teu
calcanhar. Para Maria foi profetizado que uma espada transpassaria seu coração.
E foi, o filho que carregou no seu ventre, nos seus braços, que amamentou no
seu seio, agora na Cruz lhe trazia o perdão e a Graça. Sim, Maria viu seu filho
Jesus morrer. Maria viu seu Senhor, o Cristo ressuscitar.
Assim como sua vinda a esse mundo
foi um segredo contado primeiro apenas as mulheres. Maria, Isabel. Agora o
Senhor ressurreto era sabido e reconhecido pelas mulheres.
Assim, Deus pela história fez
parcerias com as mulheres, elas lhe foram fieis em seu ministério terreno.
Doando de si mesmas a vida, o sustento, estando ao seu lado no momento do seu
tormento.
Agora, elas sabiam por seu amor e
cuidado com Ele que seu tumulo estava vazio e o Rei ressuscitara.
Quando tomou do fruto e comeu,
Eva nunca iria imaginar que seu “erro” fosse abrir caminho par a maior história
de Amor do mundo. Quando foi “condenada”, não sabia que já estava sendo
redimida. Quando caiu, nem se deu conta o quanto estava sendo exaltada. Com
Deus é assim.
E sua aliança conosco persiste.
Agora todas nós podemos ser templos de Cristo, pela Cruz. Todas nós o gestamos
em nós e somos gestadas por Ele. Todas nós somos seu perfume, todas nós somos sua
carta, todas nós somos suas sacerdotisas, suas amigas, suas servas.
A serpente enganou Eva e trouxe
morte. Deus redimiu Eva e trouxe vida. Eva quis o conhecimento pleno e o obteve
não como pensava, mas, na plenitude dos tempos Cristo veio ao mundo e redimida,
reconhecendo o Seu Senhor, Eva agora sabe tudo plenamente, muito além do que
podia saber naquele longínquo dia no Éden.
domingo, 26 de junho de 2016
O IMPORTANTE FOI RESISTIR!
Nascido em 22 de janeiro de
1911, filho de Inácio Rodrigues de Lima e Apolinária Estranquelina de Oliveira,
o pai, quilombola, oriundo de Mituaçu na Paraíba (Comunidade de Preto
reconhecida e certificada nos dias atuais), deu continuidade das práticas
tradicionais quilombolas de trabalhar com a terra. A mãe, uma pioneira, sendo
negra e mulher, era professora primária, no início do século XX, onde até mesmo
a mulher branca era educada somente para os cuidados do lar.
Desse casal, José Vicente
aprenderia a importância da resistência, luta e educação. Apoiado pela família
formou-se contador e depois economista.
Foi diretor do departamento de
economia da federação do comercio varejista de Pernambuco entre os anos de 1943
a 1958. Também, exerceu a direção contábil e patrimonial do SENAC entre 1958 a
1963 e a direção regional do SENAC entre os anos de 1963 a 1968. Em 1968
organizou e instalou o Centro de Aperfeiçoamento e Qualificação profissional
para o comércio do SENAC.
Durante o governo João Goulart
foi presidente da COAP (Comissão de abastecimento) de Pernambuco.
Na Universidade Federal Rural
de Pernambuco, organizou e implementou a contabilidade, chefiando o órgão entre
1957 e 1960. E entre 1960 a 1969 dirigiu a divisão de contabilidade e orçamento
e foi membro da comissão de planejamento universitário.
Assessorou a presidência da
Federação do Comercio Varejista de Pernambuco. Organizou e instalou o Conselho
Regional de Contabilidade – seção de Pernambuco. Fundou a Federação Nacional de
Economistas onde foi seu segundo vice-presidente.
Como sindicalista, teve uma
militância produtiva: presidiu o Sindicato dos Economistas Profissionais de
Pernambuco, sendo hoje sócio benemérito.
Organizou e instalou os
seguintes sindicatos: dos Trabalhadores em energia termo elétrica de Recife,
dos Trabalhadores da Industria do vidro, cristais e espelhos do Recife.
Além de sua vida profissional
e militância sindicalista, José Vicente era também um militante aguerrido da
causa negra. Num contexto de ideologia de embranquecimento e higienista do
governo de Agamenon Magalhães a fundação da Frente Negra Pernambucana fazia um enfrentamento e projetando a situação social, econômica e o racismo enfrentado
pelos negros.
A Frente Negra Brasileira no
Rio de Janeiro foi um dos movimentos impactantes do período pós-abolição com
forte orientação da educação como forma de ascensão social.
A Frente Negra Pernambucana
não se diferenciava na orientação em entrevista ao Jornal Djumbay, José Vicente
fala da chegada da Frente Negra através da visita de Barros “o mulato”, vindo
do Rio Grande do Sul e que com Solano Trindade, José Albuquerque e Gerson
Monteiro Lima a entidade em Pernambuco teve seu início.
Nesta mesma entrevista José
Vicente analisa a importância da Frente Negra: “O fato marcante da Frente Negra foi a posição que o
negro tomou de se defender e lutar não só contra o preconceito, mas, sobretudo
lutar por uma projeção da sociedade”.
No centena rio da abolição em 1988, o Diário de Pernambuco fez
uma edição especial comemorativa, sendo José Vicente um dos entrevistados,
sobre a Frente Negra Pernambucana ele faz a seguinte avaliação que “redimir o
negro da condição de semi-escravo, sem acesso aos meios de progresso e ascensão social e econômico, ou seja, sem chances de escolaridade e, por decorrência,
sem lugar no mercado de trabalho qualificado.
Nesta mesma entrevista ele toca na ferida, ainda aberta, da
não aceitação do negro por si mesmo, ou o preconceito as avessas, conforme a ascensão social e econômica muitos negros naquela época não queriam nem mesmo
“tocar no assunto” do preconceito e da negritude e conclui: “quando a gente não
se reconhece como negros estamos formando a frente dos brancos.”
Ao tocar no “lugar social do negro” e a transgressão de sair
desse lugar, estudando, formando-se e assumindo postos de trabalho em que “não
deveriam estar”, mostra com analise muito apurada que o preconceito se
evidencia ou mostra-se de forma não velada. E dá seu exemplo em que era
menosprezado nos tempos do Ginásio Pernambucano sendo chamado de “macaco”.
No prefacio do livro do historiador Humberto Gibson Palmares
– Troia Negra ele assim se define “Tanto eu como Gibson descendemos de uma família de agricultores de Mituaçu dos Creoulos, localizado as marges do rio
Gramame, no estado da Paraíba, que emigrou no passado uma de suas raízes para Pernambuco. Somente podemos dizer: recebemos o recado”.
E qual recado se referia José Vicente? A resistência e a
luta. Simbolo máximo dos quilombos, herança máxima de todo negro.
Para José Vicente o caminho se dava através da educação e por
isso fundou o Centro de Cultura Afro-brasileira que tinha como objetivo
elaborar estudos e pesquisas sobre a cultura afro-brasileira. Visionário, José
Vicente se antecipava na década de 30 a ações que somente nos anos 2000 através das Politicas de Igualdade Racial começaram a ser realmente implantadas como
politicas publicas: a lei 10. 639/03 que insere no currículo escolar a historia
da africa e historia da cultura afro-brasileira, as ações afirmativas no meio
educacional universitário que possibilitaram a entrada de mais de 200% de
jovens negros no ensino superior, e as ações afirmativas em concursos públicos aumentando o numero de negros na administração publica.
Na vida politica participou do PTB, hoje PDT, sendo assessor
de Josué de Castro. Faz uma critica pertinente na época, que os partidos políticos não levavam a seria a pauta do movimento negro. Correto, na década de
30, como alguns partidos hoje, veem a questão do negro como questão de classe e
não de preconceito e racismo. Somente a redemocratização e partidos mais
alinhados a esquerda como PDT e PT vão fomentar com sua militância as discussões e as politicas publicas hoje
implementadas.
Critica o esfacelamento do movimento negro e aponta para o
individualismo de ascensão social pontuais e não uma conscientização coletiva
do negro e sua cultura.
Suas criticas muito pertinentes na década de 80. Hoje, se
vivo fosse, avaliaria os avanços do movimento negro e as politicas publicas
implementadas como positiva, contudo, não deixaria de criticar que as mudanças
estruturais necessárias, principalmente na educação, para a saída da
inferioridade econômica e a permanência na condição de semi-escravos ainda não foram realizadas e estamos distantes de mudar a realidade dos negros no Brasil.
José Vicente encarnou os ideais quilombolas: Resistir e
Lutar! Fez sua parte militando no movimento negro, na vida sindical, apontando
a educação como porta de saída da inferioridade social e econômica do negro, na
luta pela conscientização do negro em relação a sua cultura e identidade. Na década de 30 ao Fundar a Frente Negra Brasileira tinha uma pauta progressista,
desafiadora, visionária, que ainda se faz presente no movimento negro e ainda é
pauta de luta de todo negro brasileiro.
Esse homem visionário e lutador é meu pai. E, recebi seu
recado: O importante é resistir!
Candida Maria Ferreira da Silva
Diário de Pernambuco. Recife, 17 de Maio de 1988
Djumbay – Informativo da comunidade negra. Nº 1, março de
1992, pag 3.
SILVA, Fátima Aparecida. Frente Negra Pernambucana e sua
proposta de educação para a população negra na ótica de um dos seus fundadores:
José Vicente Rodrigues de Lima – desada de 30. Fortaleza: 2008
quinta-feira, 16 de junho de 2016
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