“E
disse o Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A
serpente me enganou, e eu comi”.
Genesis
3. 13
Culpada! Maldita! Maligna! Porta
do inferno! Sem alma! Enviada de satanás…é a mulher já foi e continua sendo na
teologia misógina tudo isso, além de influenciar fieis, também se constituiu
como um fato social, de tão maligna, precisava de freios e esse freio só
poderia ser dado por um homem.
Mas, com atrevimento de culpada,
maldita, maligna e outros adjetivos sombrios que quero pensar sobre esse
momento de Eva e a serpente e seu comportamento após os fatos ocorridos.
Primeiro estamos tratando sobre
CONHECIMENTO, temos um ser pensante chamada Eva, a quem foi dada a ordem de
cuidar e dominar a criação. Ela estava tendo um trabalho duro de pensar, dar
significado a tudo o que estava ao seu redor, criar um mundo, um sistema, uma
linguagem.
É no meio desse trabalho de
reflexão que a serpente entra com suas insinuações. Interessante é que ela a
atrai exatamente naquilo que está envolvida: conhecer, pensar.
Ela distorce a verdade: “ORA, a
serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus
tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de
toda a árvore do jardim”? Gn 1 Eva, responde a verdade “Não, de todas as
arvores não, da arvores do conhecimento do bem e do mal não devemos comer, por
que morreremos. ” Em contrapartida a serpente lança sua isca: “Não. Não, vocês
não vão morrer! Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os
vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. ”
Em outras palavras: Deus está
mentindo, Ele só não quer que vocês saibam tudo, sejam livres, conheçam como
Ele conhece...sejam como Ele, deuses.
E Eva “vendo que a arvore era boa
para dar conhecimento”, tomou do fruto, comeu e deu ao seu marido. Não estamos
diante de um ser idiotado, mas, de alguém pensante, que construía naquele
momento um sistema de sociedade com seu parceiro utilizando sua total
capacidade cognitiva.
A questão para Eva era conhecer mais,
aprofundar-se nos mistérios que aquele mundo lhe proporcionava e a serpente usa
seu sempre astuto ardil a distorção da verdade...ah não é bem assim!
Eles eram livres para desfrutar
de tudo, mas, havia um limite. O limite não era o medo de Deus a respeito de
uma sabedoria que não queria repartir. O limite era pedagógico. Para haver
liberdade há de se haver limites ou caímos na libertinagem. Para haver
democracia há de haver limites senão caímos no anarquismo. O limite postos e
bem claros são a base da liberdade humana. A falta de limites causa o
aprisionamento do ser.
Satanás usa uma estratégia bem
conhecida: se não tem tudo não tem nada. Não é sempre assim? A distorção da
verdade, sempre com a aparência de piedade e bondade? Nunca o horror que ela
esconde, no caso, o desenrolar dos fatos ocorridos: quebra do relacionamento
com Deus, entre o casal, o desastre cósmico, o desastre da natureza e pôr fim a
morte.
Havia um limite ao conhecimento?
Não, não havia nenhum limite ao conhecimento deles (casal adâmico). Havia um
limite para o uso da liberdade com responsabilidade.
Eva, não precisava “ser como
Deus”, ela já tinha essa Imago Dei definida e estruturada nela. Tinha liberdade
para relacionar-se com Deus e conhecer tudo o que quisesse. Mas, dar-se limite
era essencial para viver sua liberdade.
Atraída a um saber sem limites,
Eva desconheceu o limite imposto e caiu. Mas, a história não acaba aqui.
Confrontada sobre seu ato ela corajosamente assume o que fez. Ela reflete sobre
si mesma, que foi enganada e que comeu. Não usa subterfúgios. Fui enganada e
comi.
As consequências logo vieram: a
terra se tornou maldita, o trabalho árduo, a serpente rastejante, a dores do
parto maiores, a expulsão do paraíso e a morte física.
Mas, na tríade Deus- mulher-
serpente, acontece algo muito interessante. A serpente e a mulher se tornam
INIMIGAS, eternas inimigas. Lembrando que a serpente aqui representa satanás, o
mal, lúcifer, temos uma interessante revelação: satanás e toda a sua turma
maligna odeia a mulher. Em todos os tempos, lugares e religiões mulheres são
perseguidas e maltratadas, para além das razões sociais e históricas, hoje
chamo atenção para a transcendência da violência, da perseguição, da
desvalorização sistemática da mulher.
A semente da mulher destruirá a serpente,
Deus está falando do Cordeiro Imolado antes da Fundação do Mundo, é na
legalidade do nascer humano que o Cordeiro, Filho do Deus Vivo, o Deus Eterno
na blasfêmia para os judeus, na loucura para os gregos, se faz homem, entra na
história.
Se a serpente a enganou e a
mulher foi o veículo para a queda, ela agora, ela era o veículo para a abrigar
em seu corpo. Aquele que nos abrigaria na Graça. A mulher foi o primeiro templo
de Deus.
Disforme nas entranhas de sua
mãe, Jesus, a tinha como um templo que o guardava como grande tesouro.
A serpente há de morder teu
calcanhar. Para Maria foi profetizado que uma espada transpassaria seu coração.
E foi, o filho que carregou no seu ventre, nos seus braços, que amamentou no
seu seio, agora na Cruz lhe trazia o perdão e a Graça. Sim, Maria viu seu filho
Jesus morrer. Maria viu seu Senhor, o Cristo ressuscitar.
Assim como sua vinda a esse mundo
foi um segredo contado primeiro apenas as mulheres. Maria, Isabel. Agora o
Senhor ressurreto era sabido e reconhecido pelas mulheres.
Assim, Deus pela história fez
parcerias com as mulheres, elas lhe foram fieis em seu ministério terreno.
Doando de si mesmas a vida, o sustento, estando ao seu lado no momento do seu
tormento.
Agora, elas sabiam por seu amor e
cuidado com Ele que seu tumulo estava vazio e o Rei ressuscitara.
Quando tomou do fruto e comeu,
Eva nunca iria imaginar que seu “erro” fosse abrir caminho par a maior história
de Amor do mundo. Quando foi “condenada”, não sabia que já estava sendo
redimida. Quando caiu, nem se deu conta o quanto estava sendo exaltada. Com
Deus é assim.
E sua aliança conosco persiste.
Agora todas nós podemos ser templos de Cristo, pela Cruz. Todas nós o gestamos
em nós e somos gestadas por Ele. Todas nós somos seu perfume, todas nós somos sua
carta, todas nós somos suas sacerdotisas, suas amigas, suas servas.
A serpente enganou Eva e trouxe
morte. Deus redimiu Eva e trouxe vida. Eva quis o conhecimento pleno e o obteve
não como pensava, mas, na plenitude dos tempos Cristo veio ao mundo e redimida,
reconhecendo o Seu Senhor, Eva agora sabe tudo plenamente, muito além do que
podia saber naquele longínquo dia no Éden.
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