Eu

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sábado, 18 de julho de 2015

ALIVIANDO A BAGAGEM



Faltando algumas semanas para completar 49 anos, quem sabe chegar ao 50, repenso a vida e toda a viagem que fiz. Certo que já fiz uma viagem longa, não sei daqui pra frente o que será. Certo que ela é mais curta do que já caminhei e se assim for, melhor aliviar a bagagem e seguir em frente mais leve.

Jogo fora tudo que for desnecessário
Pra seguir a viagem é preciso muito pouco.
Já não me interessa o poder,
Esse tão desnecessário fascinante
Que passa num instante.
Jogo fora as vaidades ufanistas, o sempre ter razão
O levar a melhor, ser a primeira, a mais inteligente
Os cargos, os nomes, as afirmações pessoais.
Já não brilham mais essas pedras
Que nada tem de preciosas e só pensam durante a viagem.
Jogo fora as verdades inventadas
Quero a realidade porque eu posso transforma-la.
Jogo fora os elogios, as emulações, as adulações
Na sua grande maioria são falsas
E já conheço bem quem eu sou
Pra necessitar que o Outro me diga o que sou ou o que devo ser.
Me olho frente a frente
Não me escondo de mim
Os cabelos brancos já apareceram e algumas rugas também
É o tempo, tempo, tempo tempo...um dos deuses mais lindos
Jogo fora a ansiedade porque hoje já é o bastante
Ouvi o canto dos pássaros
E vi o céu azul.
Daqui a pouco não sei o que será
Nem mesmo se viverei.
Jogo fora vaidades tão tolas e juvenis
Me apego as simplicidades
Que fazem a vida valer a pena e não ser pequena.
Quero na minha vida a poesia
O riso, a flor, as lágrimas, a lua
O sol que brilha.
Quero na minha vida a verdade, sempre a verdade
Se amo, amo, se não amo, não amo...
Quero na minha vida quem me veja como sou.
Que me ame sendo eu uma porra louca
Que me ame exatamente porque eu sou uma porra louca.
Porque sou gente na vida e não uma estátua em pedestal.
Quero acolher no meu coraçao
As amizades verdadeiras
Aquelas que te fazem bem
Que te façam sorrir e avançar.
Quero pequenas delicadezas
Já não me enganam grandes explanações.
O amor não sejam palavras
Mas atitudes...miúdas, pequenas, desinteressadas.
Quero a liberdade da fé sem religiosidade institucional
Quero o encontro com o Evangelho
Reencontrar o meu Amado
E só nós dois continuarmos a caminhada.
Quero o prazer da vida que se faz nas coisas miúdas
Quero que meus olhos vislumbrem milagres cotidianos
Quero tocar o mundo através da oração
Quero escrever e derramar em palavras
Sentimentos e inspirações divinas.
Se minha vida tem que ter um estatuto
Que sejam as bem aventuranças!
Quero ser humana: errar e acertar
Errando e acertando me tornando mais humana
Entenda o outro na sua humanidade.
Sou livre. Não me assento mais no tribunal.
Nem para julgar
Nem para ser julgada e logo depois executada.
Quero a música e a beleza
Mas a beleza não institucionalizada
A beleza rebelde
Subversiva....
Eu sempre fui subversiva
Eu nunca entrei na caixinha
E mais do que nunca não quero ser encaixotada.
Agora que a viagem é de qualquer forma
Menos longa
Que rir mais e chorar somente pelo que realmente vale a pena
Viver um grande amor se a alma não for pequena.
Não há tempo para desperdiçar....
A mulher madura tem dentro de si uma menina
Que só ela pode acalentar e cuidar.
Não há tempo de dar ouvido a enganos
Nem elogios, nem adulações, nem bajulações
Só tenho tempo para viver agora
Grandes discursos não me importam mais.
Não tenho medo de viver o que deve ser vivido
Nem que pelos demais não seja compreendido.
Tenho pressa....
Mas uma pressa que faz minha caminhada mais lenta
Sem ansiedades pueris
Sem orgulhos infantis
Uma caminhada agora de cada dia
Passo a passo...
Observante, silenciosa, ouvinte
Vendo o que até então estava invisível.
Quero teimar com a bondade mesmo num mundo de tanta maldade
Pra quem me oferecer a dor
Quero oferecer a flor que brota em mim
Em poemas, em cuidados, em afetos.
A bagagem só leva coisas simples
Nada de complicações
Tudo que é complicado fica fora do resto da viagem.
E assim continuo a caminhada
Até onde vou não sei...nem sei se termino esse dia
Porque me preocupar?
Só sei que vou mais leve
Sem pretensões
Sem planos
Agradecendo a Deus pela vida
Que não importa como seja
Sempre vale a pena
Mesmo que seja uma vida Severina.
Navego…é preciso, mas, nunca tão preciso.
Não sou espelho e nem porto
Sou uma canoa pequena deslizando pelo mar
E eu vou...sem ancora, sem peso, sem remorsos
Sem sofrimentos desnecessários
Enfrentando o que vier, como vier, quando vier....
Mas por hoje
Navego hoje
Somente hoje
Ate
Anoitecer…e ser amanhã
Onde quer que esse amanhã seja...



2 comentários:

  1. Lindo seu poema Candida, passei por essa fase dos 49, muito confusa, não tinha como aliviar a bagagem. Só hoje, posso ler o seu poema e fazer das suas, as minhas palavras, jogando fora, tudo que for desnecessário.
    Obrigada, abraços carinhosos
    Maria Teresa

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