Eu

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domingo, 10 de maio de 2015

Ave Maria no Dia das Mães.



A Maria que eu conheço, da outra, só tem o nome.
Ave Maria, daqui do Brasil,
dos anos dois mil, até quando?
Do seu ventre vão brotando sem "Anunciação"
muitos meninos morenos,
pobres,
nazarenos,
que vão vivendo a "Via Crucis"
lá no alto do morro,
carregando fuzis,
e, de lá mesmo despencam,
mortos,
dilacerados, aos dezesseis.
Nunca aos trinta e três.
Ave Maria, a que eu conheço,
lá da favela "Galiléia"
não tem consolo de "Martas " nem " Verônicas ",
e chora por seus filhos,
esfregando , torcendo a lágrima
na roupa da bacia,
pendurando a dor no varal.
Maldita Maria entre as mulheres,
às vezes " Madalena "
que se deitou com tantos " Josés ",
cachaceiros, arruaceiros, violentos.
Mas o "Senhor" é convosco em cada filho que enterras,
em cada pranto que sufocas,
limpando o chão dos " Escolhidos ".
Ave Maria da Silva,
rogai por nós, que somos "Pilatos ",
lavando as mãos sobre as suas misérias,
que não dividimos contigo os peixes e os pães.
Maria da Silva do Brasil,
rogai por nós,
agora e na hora de sua morte.
Amém !

Dayse Mary Andrade

A foto é de Carolina de Jesus. Negra, favelada e escritora. (OM)


Um comentário:

  1. Candida a gente fica sem fala, diante desse lamento, mas que, infelizmente, tantas vivenciam. Obrigada, abraços carinhosos
    Maria Teresa

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